"A Ferro e Fogo", por Henryk Sienkiewicz

quarta-feira, janeiro 01, 2014 Sidney Puterman

Meados da década passada li sobre o lançamento no Brasil da trilogia do Prêmio Nobel de Literatura Henryk Sienkiewicz, acrescido de um vasto rol de elogios. A matéria destacava que a obra de Sienkiewicz tinha tal simbolismo para o povo polonês que, durante a ocupação nazista, os engajados na resistência assumiram o nome dos seus personagens. "Putz", pensei, "deve ser irado". E era: um genuíno, talentoso e apaixonante romance de capa e espada, com impressionantes descrições do teatro de guerra pós-medieval. Encomendei de pronto os dois primeiros volumes, os únicos então publicados. Li e me diverti. Escrito no último quarto do século XIX e referindo-se aos embates de mais de duzentos anos antes, o texto exibia mocinhos e vilões de um heroísmo invulgar, com uma paixão por sua pátria que hoje soa anacrônica. Me senti em casa também por conta da profusão de xarás meus - o herói, Jan Skrzetuski; o espertalhão, Jan Zagloba; e o rei, Jan Kazimierz. O contato com a história da terra dos meus antepassados me foi extremamente reconfortante. A trilogia, entretanto, carecia dos dois últimos livros, em quatro tomos, ainda não impressos. Assim, me despedi da guerra entre os nobres poloneses e os revoltosos cossacos, do gigante Longinus Podbieta (cujo objetivo em sua longa vida de guerreiro era conseguir cortar 3 cabeças em um só golpe do seu espadão), do bandido de almanaque Iwan Bohun, do líder revolucionário Bohdan Chmielnicki, da imponência do Príncipe Jeremi Wisniowiecki e da tensão do mítico cerco de Zbaraz. A cuidadosa tradução de pan Tomasz Barcinski deu ainda um tempero adicional à excepcional obra de Sienkiewicz - cujas 890 páginas eu leria uma segunda vez, anos depois, ao receber os derradeiros volumes, para me reambientar com os personagens, muitos deles presentes em todos os tomos. Um suculento banquete de literatura clássica polonesa, regado a muito mel. Na pohybel para quem não gostar.

Editora Record, 890 páginas (em dois tomos)

Sidney Puterman

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

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